Tuesday, June 14, 2005

 

Para acabar de vez com o tribunal da História

Uma das frases mais ouvidas a respeito de Cunhal é que ele é um derrotado da História. Por contraposição, Mário Soares seria o grande vencedor. E isto tem sido dito, mostrado e escrito vezes sem conta na televisão e na imprensa. Cunhal apresentado como o perdedor de uma luta com Soares pelo destino de Portugal. E a insistência com que Soares foi ouvido e referido ontem era de molde a fazer crer que toda a acção política de Cunhal só faz sentido quando é contraposta à de Soares. Ainda há pouco assistimos a argumentos semelhantes a respeito de Sartre e Aron: a História teria dado razão a Aron e mostrado que Sartre estava errado.
O que estes argumentos revelam é em primeiro lugar uma crença no sentido da História, como se esta caminhasse para um determinado fim, para uma determinada realização social, que neste caso seria a sociedade capitalista e demo-liberal. Os que tiveram projectos político-sociais diferentes estiveram ao arrepio da marcha inexorável da história.
O que é curioso é que Cunhal também acreditava que a História tem um sentido, no seu caso que o destino colectivo da espécie humana era a utopia da sociedade sem classes. A diferença é que a teleologia comunista de Cunhal estava ao serviço da luta contra as classes dominantes, enquanto a teodiceia liberal do fim da história serve apenas para legitimar o actual estado das coisas.

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